OAB-SP pede que PF investigue acesso a processos e dados de 400 mil pessoas com credencial de advogada
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13 de novembro, 2025
Dados de 50 mil a 200 mil processos foram obtidos a partir dos acessos. Ordem aponta indícios de que o objetivo era a aplicação de golpes pela internet
A Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) enviou à Polícia Federal (PF) um pedido de abertura de inquérito para investigar o acesso indevido, automatizado e massivo de dados de processos do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) com as credenciais de uma advogada do interior de São Paulo.
Segundo uma investigação da própria OAB-SP, dados de milhares de processos judiciais — entre 50 mil e 200 mil — foram obtidos a partir dos acessos. A seccional paulista da da Ordem aponta indícios de que o objetivo era a aplicação de golpes pela internet. Informações sensíveis de até 400 mil pessoas, incluindo partes, advogados e servidores do Judiciário, foram comprometidas, diz a OAB-SP.
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A advogada dona da credencial trabalha em uma lawtech que oferece serviços de jurimetria, mas negou à OAB-SP que tenha conhecimento ou participação nos acessos. Ela não tem nenhum processo em tramitação no TRF4.
A OAB-SP pediu que a PF preserve a identidade da advogada em divulgações sobre a investigação.
O caso já está sendo analisado pela Polícia Civil de São Paulo, mas a entidade pede a participação da PF por haver suspeita de atuação de uma organização criminosa nacional com estrutura tecnológica internacional, o que atrai a competência federal.
“O sistema-alvo (TRF4) possui abrangência territorial nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e os processos acessados indevidamente envolvem partes, advogados e jurisdicionados de múltiplas unidades da federação, configurando inequívoca abrangência interestadual”, diz a notícia-crime da OAB-SP enviada à PF.
Os dados foram levantados em apenas três dias, entre 1º e 3 de setembro de 2025, por 46 IPs (número que identifica dispositivos conectados à internet) diferentes. Foram feitas 200 mil consultas, de forma ininterrupta, com uma taxa média de 260 requisições por minuto — padrão fisicamente impossível de ser reproduzido manualmente por um ser humano, segundo o documento enviado pela OAB-SP à PF. Isso caracteriza “inequivocamente o uso de scripts automatizados e robôs digitais (bots)”, diz a entidade.
A estrutura organizada, a divisão de tarefas e uso sistemático de ferramentas de ofuscação e automação apontam envolvimento de organização criminosa, diz a OAB.
Embora os acessos tenham sido feitos, aparentemente, de São Paulo e Minas Gerais, todos os IPs identificados usaram o mesmo provedor de VPN indiano. Provedores de VPN conectam um dispositivo com um servidor remoto, permitindo a navegação privada, e costumam ser usados por quem não quer ser identificado ao acessar um endereço online.
A OAB-SP pede que a Polícia Federal faça as ações investigativas pertinentes, incluindo o cumprimento de mandados de busca e apreensão nos endereços a partir de onde os acessos foram feitos e a solicitação de cooperação jurídica internacional às autoridades da Índia para fornecimento dos dados de quem contratou o serviço de VPN indiano. Entre os crimes a serem investigados, estão organização criminosa, estelionato e furto mediante fraude eletrônica.
A ação da OAB-SP foi resultado da atuação de uma Força-Tarefa de Combate ao Golpe do Falso Advogado, instituída em 2025 e responsável por articular ações preventivas, reunir evidências, acompanhar investigações e orientar a advocacia e a população contra golpes.
Segundo a entidade, as práticas verificadas no caso estão associadas a fraudes conhecidas como “golpe do falso advogado”.
São casos nos quais “criminosos se passam por profissionais da advocacia para enganar cidadãos com falsas solicitações de transferências via PIX, supostos depósitos judiciais ou pagamentos de custas processuais”, diz a OAB-SP.
Fonte: Jota (reportagem de Letícia Mori)