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Golpe do falso advogado: criminosos utilizam dados reais da Justiça para lesar vítimas

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30 de outubro, 2025

Diante da escalada dos casos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou novas medidas de segurança nos sistemas processuais eletrônicos

Um comércio clandestino de logins e senhas de advogados virou atalho para quadrilhas entrarem em sistemas eletrônicos da Justiça, vasculharem processos, coletarem dados sensíveis e, a partir daí, aplicarem o golpe do falso advogado. Segundo dados citados por seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os prejuízos estimados para brasileiros nos últimos três anos passam de R$ 2,8 bilhões em cerca de 15 mil casos relatados à Ordem.

A reportagem exibida pelo Fantástico localizou vítimas e identificou anúncios que oferecem o esquema nas redes sociais. Com o login de advogados legítimos, os criminosos acessam o Processo Judicial Eletrônico (PJe), baixam procurações, petições e decisões, e entram em contato com as partes envolvidas — geralmente pessoas idosas ou em busca de benefícios judiciais — fingindo ser seus representantes.

Diante da escalada dos casos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou novas medidas de segurança nos sistemas processuais eletrônicos. A partir de novembro, todos os advogados deverão utilizar autenticação em dois fatores, via aplicativo, para acessar o Processo Judicial Eletrônico e outras plataformas do Judiciário.

O objetivo é dificultar o uso de logins e senhas roubadas e impedir que terceiros consigam acessar os processos sem o dispositivo físico do advogado. No Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região, por exemplo, a medida entra em vigor dia 3 de novembro.

Golpista oferece serviços

Um dos golpistas que vende as credenciais afirmou, em mensagens obtidas pela reportagem, que envia um link para baixar um aplicativo que permite os acessos. O custo, incluindo login e senha roubados de um advogado, é R$ 500.

“Ele (o aplicativo) vai instalar automaticamente quando tu estiver executando, vais realizar toda a instalação no PC”, disse o criminoso, em mensagem de áudio de visualização única.

Em julho, o Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos deflagrou a terceira fase de uma operação que prendeu um golpista, no Espírito Santo, que negociava credenciais de advogados.

O homem preso é apontado como um dos principais fornecedores de senhas e logins. A operação também prendeu outras nove pessoas.

Um dos casos apurados pela reportagem de uso criminoso das senhas aconteceu em Parobé. A advogada Leandra Wichmann representa uma viúva que buscava a pensão do marido falecido. A cliente recebeu uma ligação de um suposto integrante do escritório de Leandra e, acreditando falar com a advogada, acabou transferindo R$ 255 mil ao longo de nove depósitos, após ser convencida de que o dinheiro serviria para liberar o valor do processo.

— Me chamaram para uma conversa, e eu achava que era a minha advogada falando comigo — contou a vítima.

A fraude só foi descoberta depois que Leandra verificou acessos indevidos ao processo e constatou que arquivos de suas petições e da procuração haviam sido usados pelos golpistas para enganar a cliente. Senhas de um advogado do Paraná foram utilizadas para acessar as peças processuais minutos antes de a mulher receber mensagem dos falsários.

Diálogo com golpista

Durante a apuração, a reportagem conseguiu entrar em contato com o criminoso que se passou pela advogada. O golpista — um homem que tentava imitar a voz de mulher — atendeu a ligação e tentou sustentar a farsa:

REPÓRTER: “Tu estás aplicando um golpe se fazendo passar por uma advogada e com voz de mulher?  GOLPISTA: “Leandra Wishman. Doutora Leandra.” REPÓRTER: “Certo. Não, é que eu achei que tu fosses um golpista.” GOLPISTA: “Eu já abri um inquérito contra o senhor.” REPÓRTER: “Mas advogada não abre inquérito. Quem abre inquérito é a polícia.” GOLPISTA: “Pronto. Eu já abri. Já fui na delegacia, se o senhor não sabe, tá?”

REPÓRTER: “Eu sou o repórter Giovani Grizotti. Isso aqui tudo está sendo gravado.”

O golpista, então, encerrou a ligação.

A própria Leandra Wichmann decidiu ligar para outro integrante da quadrilha, que se fazia passar por “sócio” dela. A conversa travada diante da vítima foi acompanhada pela equipe de reportagem:

LEANDRA: “Bom dia, doutor Guilherme. Tudo bem?” GOLPISTA: “Tudo bem.” LEANDRA: “Eu sou a verdadeira Leandra, a advogada que o senhor está tentando enganar há bastante tempo, aplicando esse golpe contra a minha cliente. O que o senhor tem a dizer sobre isso?” GOLPISTA: “Não… eu não tô sabendo de duas Leandras, né?” REPÓRTER: “O senhor não tem vergonha de estar aplicando esse golpe em uma pessoa humilde e honesta?”

Logo em seguida, o golpista desligou o telefone.

Dicas para se proteger

1) Desconfie quando pessoas desconhecidas entrarem em contato oferecendo facilidades
2) Golpistas normalmente dizem que essa facilidade oferecida tem de ser aproveitada com urgência. Fique atento quando exigirem pressa
3) Antes de repassar informação pessoal ou realizar qualquer tipo de pagamento não combinado previamente, confirme pessoalmente com seu advogado
4) Converse com familiares ou amigos banco se estiver desconfiado
5) O Tribunal de Justiça não cobra nenhum valor para a liberação de parcelas e tampouco para o pagamento do saldo ou integralidade de crédito de precatórios

Fonte: Zero Hora (RS)