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No dia 1º de abril, quase caí no golpe do falso advogado

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11 de abril, 2025

Mirian Goldenberg ( * )

No dia 1º de abril, às 9 horas, recebi pelo WhatsApp uma mensagem da presidente da Associação dos Docentes da UFRJ informando que o processo de pagamento do retroativo de 3,17% havia sido liberado.

Para solicitar o recolhimento dos alvarás de liberação, eu deveria entrar em contato com o escritório de advocacia que cuida do processo. Enviei uma mensagem para o advogado responsável que respondeu: “Bom dia profª. Mirian, irei identificar seu processo. Lhe retorno o contato até às 16 horas de hoje”.

Tudo parecia certinho demais, mas fiquei desconfiada e liguei para a sede da Adufrj.

“Recebi essa mensagem por WhatsApp e quero confirmar com vocês.”

“É golpe!”

“Como assim, golpe? Como eles conseguiram o número do meu celular e todas as informações sobre o meu processo?”

“São criminosos que têm acesso aos dados do processo e se passam por advogados em mensagens por celular e e-mail. Muitos professores já foram vítimas desse golpe.”

Imediatamente, bloqueei os contatos da falsa Adufrj e do falso advogado, mas fiquei em pânico. Infelizmente, até ser uma possível vítima dos golpistas, eu não sabia nada sobre o golpe do “falso advogado”. Só então li notícias sobre os criminosos que estão atuando em todo o Brasil.

Fiquei horrorizada quando descobri que centenas de brasileiros já caíram no golpe e que muitos se endividaram para pagar R$ 13 mil, R$ 23 mil e até mais a falsos advogados que usam uma linguagem jurídica sofisticada e enviam dados verdadeiros dos processos.

Eles obtêm os dados por meio dos documentos relacionados ao processo jurídico, que são públicos. Entram em contato com as vítimas, utilizando fotos dos advogados, número da OAB e logomarcas dos escritórios. Como os golpistas têm todas as informações referentes ao caso, as vítimas acreditam que estão se comunicando com um representante do escritório. Eles então pedem o pagamento de boletos falsos ou transferências via Pix, alegando que são referentes a despesas do processo.

No dia 1º de abril, publiquei na Folha a coluna “Brasil é o país que mais acredita em fake news”, mostrando que 88% dos brasileiros já acreditaram em notícias falsas. Destes, 64% já caíram em golpes e 63% acreditaram em desinformação sobre propostas de campanhas políticas e eleitorais. Paradoxalmente, 62% afirmaram que confiam na própria capacidade de diferenciar informações falsas de verdadeiras.

Nos comentários sobre a minha coluna, leitores culparam a baixa escolaridade, a ignorância e a desinformação dos brasileiros pela crença em fake news. Um deles escreveu: “É que o povo daqui é burro pela própria natureza”. Em resumo, a culpa é das vítimas, não dos criminosos.

Foi grande a minha vergonha de quase ter caído em um golpe, ainda mais no mesmo dia em que saiu a minha coluna sobre fake news. Confesso que acreditei no falso advogado porque, além de não ter conhecimento sobre esse tipo de golpe, tudo parecia verdadeiro: as informações sobre o meu processo, a logomarca da Adufrj, a foto e o número da OAB do advogado.

No Dia da Mentira, fui ignorante, desinformada e burra, como disseram os leitores, e quase caí no golpe do “falso advogado”. Infelizmente, no Brasil, todos os dias são 1º de Abril.

E as vítimas, morrendo de vergonha e com enormes prejuízos financeiros e emocionais, ainda são consideradas as verdadeiras culpadas.

( * ) Mirian Goldenberg (Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de “A Invenção de uma Bela Velhice”)

Fonte: Folha de São Paulo