CORREIO BRAZILIENSE: 170 MIL APROVADOS NA FILA PARA O SERVIÇO PÚBLICO
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06 de abril, 2009
O corte de R$ 21 bilhões no orçamento público do governo federal deste ano despejou um balde de água fria nos concurseiros. Apesar de não cancelar ou suspender os concursos, a bomba estourou no colo das nomeações. As despesas com pessoal e encargos sociais vão cair R$ 1,066 bilhão e, para fechar a conta, convocações serão adiadas e as autorizações passarão por um pente fino. O Correio levantou que, só nos principais concursos federais, mais de 170 mil candidatos aprovados têm a expectativa de serem nomeados. São profissionais aptos a preencherem mais de 6,9 mil vagas em muitos ministérios e órgãos estratégicos.
Na versão original, a Lei Orçamentária sancionada no último dia de 2008 previa um teto de gastos de R$ 1,798 bilhão para a criação e provimento de cargos e funções. O montante poderia ser usado para preencher quase 64 mil vagas. Agora, as únicas fatias que estão a salvo são os postos de substituição de terceirizados, que totalizam 19.423 vagas. “Não podemos mexer na substituição dos terceirizados. Temos que cumprir o prazo judicial. Além do mais, eles vão criar uma despesa e eliminar outra”, diz Marcelo Viana, secretário de gestão do Ministério do Planejamento. O acordo para trocar contratados temporários irregulares por efetivos de carreira foi acertado em 2007 no Ministério Público do Trabalho. No Termo de Ajustamento de Conduta, todos devem ser substituÃdos até o fim de 2010.
Apreensão
Os 692 aprovados à s 212 vagas da Câmara dos Deputados são exemplos de concurseiros angustiados. Praticamente, todos os cargos foram liberados para nomeação, mas só 32 servidores tomaram posse. A seleção teve inÃcio em 2007 e protagonizou diversos questionamentos judiciais ao longo de 2008. “Quando, enfim, o concurso é homologado aparece mais esse problema”, lamenta Giovana Perlin, 37 anos, aprovada para a área de recursos humanos. Assim como ela, os arquivistas Marcelo Fontora, 46, e Bruno Menezes, 27, aguardam pacientemente para tomar posse. “Estou trabalhando e todos os dias me perguntam quando vou mudar de emprego”, diz Fontora. Segundo Bruno, as empresas não investem no empregado porque sabem que, a qualquer momento, ele não estará em seu quadro funcional.
Outros aprovados têm casos mais preocupantes: estão desempregados e vivendo da expectativa de nomeação. “São pessoas que estão entre os classificados, dentro do número de vagas e não sabem mais o que fazer”, conta Mariana Oliveira, 27, futura assistente administrativa da Câmara. A nutricionista Márcia Pontes, 44, admite que fechou o consultório que tinha e vive de trabalhos temporários. Da mesma forma, a odontóloga Mariana Soares, 28, largou o consultório e aguarda a chamada para o cargo de policial legislativo. Panos quentes
O secretário do Planejamento admite que a máquina pública brasileira suporta os novos servidores. Segundo ele, depois de um longo perÃodo de declÃnio, o paÃs atingiu o mesmo patamar de 1997 no quantitativo de funcionários públicos. Os concursos, acrescenta ele, estão recuperando a força de trabalho perdida em razão de aposentadorias, evasões e ampliação natural das demandas dos órgãos. Há 12 anos, eram 531.725 servidores civis ativos. Em 2008, esse número passou para 538.797.
A preocupação dos candidatos é amortecida por Marcelo Viana. “Não há motivo para desespero. Só estamos cautelosos, como todo o mercado de trabalho”, afirma. Ele acrescenta que o governo não agirá de maneira irresponsável. “Cada caso está sendo visto com cuidado, de acordo com as áreas de prioridade. Além do mais, o peso da folha não está nesse ingresso, que é marginal, está no estoque. Não é aà que vamos resolver o problema fiscal.” O secretário explica ainda que o mapa de impacto tem uma particularidade: quase metade dos aprovados nos concursos federais é de pessoas de dentro do governo, mas não é assim que as contas são feitas. “No cálculo dos custos, consideramos que todos são externos. O que na realidade não acontece. Jogamos a conta para cima para evitar desfalques”, diz.
As autorizações — 5.711 feitas só em 2009 — serão dadas com mais cautela. Concursos muito esperados, como os da Receita Federal, PolÃcia Federal, PolÃcia Rodoviária e Banco Central estão percorrendo os corredores do Planejamento sem previsão de sinal verde. “Receita e BC estão com negociações bem adiantadas”, limita-se a comentar Viana. “As permissões para novos concursos serão feitas com cuidado para evitar impasses futuros. É na autorização que ponderamos, reduzimos vagas, dividimos a permissão. Nas nomeações, há mais espaço para chegar a um acordo”, frisa.