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Valor Econômico: relação entre inflação e aumento de salários divide economistas

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21 de março, 2012

Entre 2010 e 2011, o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 7,5% para 2,7%, enquanto a taxa de desemprego recuou de 6,7% para 6% (na média de cada ano) e o rendimento médio real cresceu 2,7% acima da inflação. Para alguns economistas, reunidos ontem pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, o mercado de trabalho aquecido, apesar da desaceleração da atividade, ajuda a explicar parte da inflação do ano passado. Para outros, não.Alexandre de Freitas Barbosa, professor da Universidade de São Paulo (USP), não vê os salários como principais responsáveis pelo aumento de preços. "Esse não é o principal elemento de pressão inflacionária. Deveríamos nos preocupar mais com a desindexação dos serviços administrados", avalia. Para ele, seria importante que o poder de compra continuasse subindo, ainda que isso gerasse algum impacto sobre os preços.Barbosa participou do debate junto com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, e do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antonio Correa de Lacerda. O professor da USP contesta a teoria de que está havendo um esgotamento do contingente de trabalhadores disponíveis, o que criaria pressões inflacionárias.Ele lembra que a taxa de desemprego no patamar de 6% da População Economicamente Ativa (PEA), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abrange somente as pessoas que estão procurando emprego de forma efetiva e não exercem nenhum tipo de trabalho irregular – o popular "bico". "Somente um terço do excedente de trabalho está nessa condição. É um mito dizer que estamos perto do pleno emprego", ressalta.Os aumentos generalizados de salários, segundo Barbosa, não se devem à escassez de mão de obra, mas a um conjunto de fatores que permite a elevação da renda, incluindo a política de reajuste do salário mínimo, a atuação sindical e até mesmo o processo de fidelização de clientes. Nesse caso, os consumidores aceitariam pagar mais para ter acesso aos serviços prestados por profissionais de sua confiança. Ele, entretanto, admite que, em algumas categorias, a falta de trabalhadores qualificados pode promover aumento de salários.Essa limitação, para o economista do Itaú Unibanco, é uma forte fonte de pressão inflacionária, uma vez que afeta a produtividade. "Se estamos produzindo menos com mais gente, a produtividade está caindo. Isso leva ao aumento da inflação", observa.Lacerda minimiza a importância do mercado de trabalho sobre a inflação. Para ele, o impacto da elevação da renda sobre os preços é modesto. "Uma economia aquecida provoca aumento real de salário, mas como o nível de renda no Brasil é muito baixo, não vejo um descasamento muito grande entre aumento salarial e produtividade. Pode haver algum descompasso no curto prazo, mas no longo prazo os reajustes são compatíveis com a produtividade."Em momentos de desaceleração econômica, como o observado no segundo semestre do ano passado, diz Goldfajn, o natural seria aumento no desemprego. Entretanto, não foi isso o que aconteceu nos últimos meses de 2011. O economista do Itaú Unibanco comenta que as empresas estão preferindo reduzir as horas trabalhadas a cortar funcionários, já que há a expectativa de retomada da atividade econômica nos próximos meses."Demitir para depois recontratar significaria um custo extra para as companhias", afirma Goldfajn. "Para o governo, esse movimento é positivo, porque não provocará pressão no mercado de trabalho quando a economia estiver acelerando e, consequentemente, não gerará inflação."Fonte: Valor Econômico – 21/03/2012