Total de líderes negros e indígenas no serviço federal quase dobra em 25 anos, mas profissionais se sentem subaproveitados
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01 de abril, 2025
Segundo estudo, maioria de pessoas não brancas em cargos de liderança do Executivo federal veio de classes populares
A participação de pessoas negras e indígenas em cargos de liderança no Poder Executivo federal aumentou de 22% para 39% ao longo dos últimos sete mandatos presidenciais, entre 1999 e 2024, de acordo com estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro-Cebrap).
A pesquisa ouviu 58 lideranças e apontou que há uma percepção entre os servidores de que um currículo de qualidade ajuda, mas não é o suficiente para chegar à liderança na União.
Isso porque os entrevistados, todos altamente capacitados, apontam um baixo aproveitamento da qualificação das pessoas negras em cargos de carreira no Estado. Segundo os pesquisadores, a maioria das lideranças negras do serviço público federal vem de classes populares.
O crescimento da participação de pretos, pardos e indígenas foi resultado de novas redes de mobilização política, aumento do acesso das famílias negras ao ensino superior e acúmulo de experiências técnicas como servidores.
Por outra via, persiste a predominância branca e masculina no funcionalismo, com 35% dos cargos de lideranças ocupados por homens brancos, que representam 20% da população brasileira.
Altos cargos, grandes desigualdades
A desigualdade racial se amplia conforme os níveis hierárquicos aumentam. Nos cargos de maior autoridade, homens não brancos (pretos, pardos e indígenas) mantiveram estabilidade de 10% até 2014, crescendo para 18% em 2022 e fechando 2024 com 16%. Mulheres não brancas tiveram crescimento de 1,6% para 5,7% em 2022, e um aumento mais expressivo para 11% em 2023 e 2024.
A análise está contida no estudo “Lideranças Negras no Estado Brasileiro (1995-2024)”, realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro-Cebrap), com apoio da Fundação Lemann e da Imaginable Futures.
— A partir das histórias que escutamos, observamos que houve avanços no desenho de uma nova inteligência política, mais conectada com a população negra e periférica. Mas é uma nova forma de experiência que não consegue se sustentar apenas pela meritocracia, diante de um pacto de branquitude sólido e excludente — destaca a coordenadora da pesquisa, a socióloga e professora da Universidade Federal Fluminense, Flavia Rios.
Perfil ministerial
Nos ministérios, não houve mudança de perfis. Um exemplo é o Ministério das Relações Exteriores, que, durante toda a série temporal, atribui pouco mais da metade do seu quadro de lideranças a homens brancos: atualmente, 51% é composto por esse grupo.
O Ministério da Fazenda também concentra 50% do grupo, seguido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (45%) e o da Justiça e Segurança Pública (45%).
As maiores proporções de lideranças masculinas não brancas são observadas no Ministério dos Povos Indígenas (39%).
Já os ministérios com as maiores proporções de lideranças femininas não brancas (pretas, pardas e indígenas) são Cultura (22%), Povos Indígenas (22%), Esporte (21%), Educação (21%) e Gestão e Inovação em Serviços Públicos (21%).
— Investir em políticas que ampliem a presença de líderes pretos, pardos e indígenas no serviço público, bem como promovam a sua permanência nesses cargos, é necessário e urgente para a democracia — reforça Alessandra Benedito, vice-presidente de Equidade Racial da Fundação Lemann.
Fonte: Extra (RJ)