Professores nas ruas, Planalto em alerta
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15 de outubro, 2013
Cinco meses depois dos protestos contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus em São Paulo, é a hora da falta de estrutura da educação pública criar um rastilho de pólvora para assombrar governadores e prefeitos e deixar o Palácio do Planalto em estado de alerta. Sindicatos de trabalhadores na área de educação vão aproveitar as comemorações hoje do Dia do Professor para fazer manifestações em todo o país. No Vale do Anhangabaú, em São Paulo, 20 mil pessoas são esperadas para protestar e assistir a um show de Martinho da Vila. Em Mato Grosso, os professores estão acampados na frente da Assembleia Legislativa. Na capital federal, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) está acampada em frente ao Congresso desde o fim de agosto. “É um dia para cobrar mais respeito pela escola pública, o que pode gerar momentos de tensão”, afirmou ao Correio o presidente da CNTE, Roberto Franklin de Leão.
Leão lembra que cada unidade da Federação tem uma pauta específica e afirma que não há interesse em radicalizar o movimento, a exemplo dos graves incidentes ocorridos nas manifestações de professores no Rio de Janeiro. “Não há nenhum interesse nosso em sair por aí quebrando as coisas. Mas é claro que o clima pode esquentar, pois já percebemos a total incapacidade dos governantes estaduais e municipais em negociar”, disse o presidente do CNTE.
No Rio, por exemplo, a guerra é contra o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que aprovou um Plano de Cargos e Salários distante das demandas da categoria. Eles estão parados desde o início de agosto e em batalha intensa há duas semanas com o poder municipal. No última dia 1º, os professores invadiram a Câmara Municipal para tentar impedir a aprovação do projeto do prefeito. Foram expulsos com truculência pela Polícia Militar. “Naquela hora, veio à mente a repetição dos embates entre os estudantes e a PM, em junho, em São Paulo. Eram cidadãos comuns sendo agredidos pela força do Estado”, disse um aliado da presidente Dilma Rousseff.
Nesse primeiro embate, eles já estavam acompanhados dos black blocs, mas a sintonia entre ambos só se intensificou na semana seguinte. Após uma onda de destruições no Centro do Rio e confrontos violentos com as autoridades policiais, os integrantes do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) divulgaram um comunicado dando total apoio à participação dos mascarados nas manifestações. “Foi aprovado em uma assembleia da rede municipal que apoia os black blocs, a ABI, os partidos políticos, as centrais sindicais e os manifestantes de todas as ações truculentas da polícia”, afirmou o presidente do Sepe, Alex Trentino, em entrevista na semana passada.
Roberto Leão tentou apaziguar os ânimos. Mas também não fez qualquer crítica aos mascarados. “Eu não sei quais foram os termos da negociações do Sepe com os black blocs, porque o sindicato não é ligado à CNTE. Mas acredito que, como cidadãos, todos têm o direito de participar”, disse ele. Ele também nega que esteja havendo uma politização exagerada do movimento. “Claro que existem dirigentes sindicais filiados a partidos políticos. Mas as decisões quanto ao movimento são tomadas por nós, não pelas direções partidárias”, afirmou Leão, rebatendo as afirmações que o PSol estaria insuflando os confrontos como um contraponto ao PT de Dilma Rousseff.
Avaliações
A expectativa é que estudantes e profissionais de outras áreas se juntem aos professores. Integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Paulo Barela acredita que a mobilização prevista para hoje é mais uma reação da população, que eclodiu com as jornadas de junho. “A resposta da Prefeitura do Rio aos professores gerou uma revolta bastante significativa no movimento sindical em diversos estados. As manifestações estão na comoção da forma como o governo está tratando a população que vai às ruas pedir melhorias”, disse Barela. De acordo com ele, militantes do movimento trabalham para angariar mais pessoas para os protestos. Há atos marcados para outras grandes cidades, como Belo Horizonte, Recife e Goiânia.
No Planalto, a avaliação é de que, ao se aproximar dos grupos mais radicais, os professores tendem a perder o apoio da sociedade, que deseja ver uma escola pública melhor, mas desaprova atos de vandalismo. “Estamos monitorando, mas as informações preliminares são de que o movimento perde parte da força ao abrir espaço para que os grupos violentos participem dos atos”, disse um interlocutor da presidente.
Outro aliado de Dilma lembrou que a ação desses grupos gerou reações, como o debate de punições com base na Lei de Segurança Nacional ou na nova norma que prevê punições mais rigorosas contra participantes de organizações criminosas. “Mas é claro que precisamos acompanhar porque, mais cedo ou mais tarde, isso deverá respingar no ministério, com um debate sobre mais verbas para educação”, completou o aliado.
Fonte: Correio Braziliense – 15/10/2013