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O GLOBO: A LONGA TRAGÉDIA EDUCACIONAL BRASILEIRA

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08 de dezembro, 2010

 
Apesar de registrar melhora na última década, a educação no Brasil ainda está muito longe da de países com boa qualidade de ensino. Entre os 65 países que participaram da mais completa avaliação mundial sobre o nível de conhecimento, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os brasileiros ficaram em 53º lugar, obtendo a média de 401 pontos numa escala que chega a 800. Em leitura, 49% dos alunos brasileiros ficaram no patamar mais baixo de aprendizado, o nível 1, ou até mesmo abaixo dele. Em matemática, o percentual de estudantes com o pior desempenho, no nível 1, chegou a 69%. Em ciência, 54% dos estudantes também têm conhecimento muito limitado.
 
Elaborada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicada em alunos de 15 anos de idade, a prova mostra, no entanto, que a educação brasileira tem evoluído. Há dez anos, o país estava na lanterna do ranking do Pisa – em 2000, o Brasil permanecia no 45º lugar entre 45 países. Na edição de 2009, a média do Brasil subiu 33 pontos, o terceiro maior crescimento registrado na avaliação. A curva de crescimento do país ficou atrás apenas da de Chile e de Luxemburgo. Mesmo assim, o país ficou pior que países como Tailândia, Trinidad e Tobago, México e Turquia.
 
– Não podemos negar que o aumento do investimento melhorou a educação. Mas estávamos falando de uma educação péssima. Daqui para frente, o desafio é muito maior – avaliou Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação.
 
O exame do Pisa classifica o desempenho dos alunos segundo seis níveis de proficiência em leitura, matemática e ciência. Cada um deles indica um grau de conhecimento. Em leitura, por exemplo, o aluno que está no nível 1 identifica o tema principal de um texto ou estabelece conexões com conhecimentos do dia a dia. Já o aluno que obtém nível cinco é capaz de avaliar, criticar e até levantar hipóteses sobre o conteúdo. Em matemática, o aluno que obtém nível 1 só realiza ações óbvias e segue estímulos externos.
 
Matemática: o pior desempenho
 
No Brasil, apenas 0,1% dos alunos alcançou nas provas de leitura e matemática média equivalente ao nível 6, o mais alto da avaliação. Em ciências, 0,6% dos estudantes tiveram média que corresponde ao nível 5 de conhecimento. Ninguém conseguiu alcançar o nível mais alto na escala de proficiência, em que os alunos dominam conceitos mais complexos.
 
Das três áreas avaliadas pelo Pisa, o pior desempenho dos alunos brasileiros foi registrado na prova de matemática. Segundo a OCDE, o país obteve apenas 386 pontos em matemática, única área em que a nota não atingiu a meta de 395 pontos, estabelecida pelo próprio Ministério da Educação. Em leitura, a pontuação atingiu 412, seguida de ciências, com 405. Entretanto, no quadro comparativo de nove anos, entre 2000 e 2009, a matemática obteve a maior evolução (52 pontos), contra 30 pontos de aumento em ciências e apenas 16 de leitura.
 
Na média geral, o resultado das meninas brasileiras (403 pontos) superou o dos meninos (399 pontos). Na comparação com 2006, elas também obtiveram notas melhores, com um salto de 18 pontos, contra 15 dos colegas. No principal tema da prova (leitura), o conhecimento das meninas evoluiu ainda mais. Entre 2000 e 2009, a média das estudantes subiu 21 pontos, contra apenas nove dos alunos.
 
– A matemática oferece o maior desafio para a educação brasileira. Dos poucos alunos que conseguem terminar a graduação, pouquíssimos ficam no magistério. Tem muito professor de geografia dando aula de matemática. Isso é decisivo para que tenhamos esse baixo aproveitamento – analisa o professor Célio da Cunha, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
 
Segundo a avaliação feita pela OCDE, com base nos dados do Pisa, as políticas educacionais do Brasil melhoraram nos últimos dez anos. Entretanto, são insuficientes para pôr os estudantes brasileiros num nível no mercado global da indústria e comércio.
 
“A média do Brasil melhorou em todos os aspectos. Obviamente, não põe o Brasil entre os países com alta performance, mas tais ganhos sugerem que o Brasil pôs em prática políticas coerentes, que aparentemente geram resultados consistentes. O desafio agora é aumentar o nível de educação o bastante para permitir aos cidadãos a disputa de espaço no mercado global”, avalia a OCDE.
 
A educadora Guiomar Namo de Mello, diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap) e ex-secretária municipal de Educação de São Paulo, critica os projetos de valorização do professor – questão que, para ela, é fundamental para a melhoria da educação.
– A política de valorização do professor é um desastre. Não há consenso e ficam colocando panos quentes. Parece que nada se resolve sem consenso. Por isso, nossa formação continua inadequada – afirmou.
 
Guiomar também critica o “regime federativo” brasileiro na educação que discute, por exemplo, segundo ela, um currículo nacional.
 
– É muito difícil fazer um currículo em um país grande e diverso como é o nosso. É o mesmo problema dos Estados Unidos. Somos um país com muita diversidade e muita desigualdade – disse, chamando a atenção para a diferença das notas do Pisa entre as escolas privadas (502) e as públicas brasileiras (387).
 
– Isso revela a grande desigualdade que a gente mantém entre nós. E isso porque não podemos considerar nenhuma maravilha as grandes escolas particulares – comparou, observando ainda que os países latinos que estão na frente conseguiram esses resultados porque fizeram grandes esforços para melhorar.
 
O Pisa é feito por amostragem e contabiliza informações extraídas de alunos que estão concluindo o ensino fundamental ou ingressando no ensino médio. Em 2009, a OCDE aplicou a prova em 20 mil alunos no Brasil. Na comparação com a média da OCDE, de 496 pontos, o Brasil está significativamente abaixo da média da organização em todos os quesitos. Em relação aos países da América Latina, o Brasil ultrapassou a Argentina, mas ainda está atrás de Chile, do Uruguai e do México. No cômputo geral, a região de Xangai (China) obteve o melhor índice (577 pontos), à frente de Hong Kong e da Finlândia, respectivamente com 546 e 543 pontos.
 
FONTE: O GLOBO – 08/12/2010
 

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