‘IA vai mudar muito a forma como o servidor público trabalha’, avalia secretário de Governo Digital
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            30 de outubro, 2025
Rogério Mascarenhas destaca que capacitação é a chave para uma boa implementação e o bom uso da tecnologia
É inegável o avanço da inteligência artificial (IA) no mundo. E com o serviço público não seria diferente. Na visão do secretário de Governo Digital, Rogério Mascarenhas, a chave para que a implementação dessa tecnologia dê certo está na capacitação dos servidores públicos de todos os níveis. A expectativa da pasta, que está sob guarda-chuva do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), é que cem mil funcionários sejam treinados até 2026.
O secretário afirma que a IA vem para aumentar a produtividade dos agentes e complementar as lacunas do serviço. À administração pública, a ferramenta traz oportunidades para personalizar o atendimento à população e tornar o governo mais proativo na promoção de políticas públicas, antecipando-se a dúvidas e requerimentos sobre benefícios e informações, completa.
“A inteligência artificial consegue otimizar essa visão que temos de personalizar serviços, de dar transparência ao que está acontecendo”, resume Mascarenhas, acrescentando que nessa proatividade há um componente de combate à própria fraude: “Na medida em que você consegue identificar o direito para pessoa, você também tem condições de identificar aquela que não tem”.
Secretário, por que orientar os servidores públicos sobre a inteligência artificial? Quais os desafios para implementá-la?
Vejo que a IA é uma das coisas mais disruptivas que temos. Vai mudar muito a forma como o servidor público vai trabalhar. O primeiro grande desafio que temos é de capacitação para trabalhar com a IA com essa visão de melhoria do serviço público prestado ao cidadão. Em agosto de 2024 criamos na secretaria o Núcleo de Inteligência Artificial, que tem dois grandes pilares. O primeiro é focado em ajudar os órgãos e servidores no desenvolvimento de projetos e de iniciativas na parte de IA. Esse pilar procura entender a iniciativa, seu potencial, e se aquilo de fato terá impacto positivo. Hoje, temos 117 projetos em fase de implantação. Normalmente, são chatbots. Do outro lado, temos o eixo estruturante, muito focado no servidor. É um eixo que trabalha a capacitação.
Existe alguma meta?
Temos uma meta de treinar cerca de cem mil servidores, desde o nível estratégico ao nível tático, ao nível operacional, para as pessoas compreenderem o real poder que a IA pode fazer. Nós lançamos uma cartilha de uso da Inteligência Artificial Generativa para o serviço público e outro, faz algumas semanas, que é um guia de prompt, porque as pessoas têm dificuldade de entender que quando você está lidando com a IA, você passa um comando. Dentro desse eixo, temos o desenvolvimento de um framework do uso ético da IA. Sabemos que em determinadas questões precisamos de uma supervisão humana, de olhar para a transparência com que aquele dado é passado. Estamos muito focados em ajudar o servidor público nesse novo mundo.
Como assegurar que a IA será bem utilizada?
Podemos dizer que há seis pilares dos princípios éticos. O primeiro diz respeito à supervisão humana e responsabilização; o segundo, à sustentabilidade socioambiental; depois a parte de privacidade e segurança dos dados, aqui entra o respeito à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados); a segurança e robustez, para que você garanta aquela aplicação; a transparência e a aplicabilidade; e a parte de equidade, dignidade e direitos humanos.
São todos os serviços que podem utilizar inteligência artificial?
Nós voltamos então à função do núcleo, que é avaliar iniciativas que têm potencial relevante para o uso da inteligência artificial. A gente identifica o potencial e fomenta. Temos também a RedGov que é um projeto nosso que apoia os entes federativos. Em geral, é razoável que eu consiga nas várias políticas, seja Previdência, seja Assistência Social, seja Saúde, seja Educação. Eu acho que a gente tem um potencial enorme de explorar a inteligência artificial para potencializar essas políticas públicas.
O senhor tem exemplos?
Já começamos a fazer experimentos cruzando as bases de medicamentos, por exemplo, para indicar às pessoas que a medicação dela está disponível na Farmácia Popular. Essa proatividade do governo está sendo colocada como prioridade: em vez de ser reativo, da pessoa ter que requerer, e às vezes ela não tem conhecimento sobre aquilo, estamos procurando ser proativos nessa atitude. Na AGU (Advocacia-Geral da União) você já tem peças que estão sendo produzidas com uso da inteligência artificial. Já temos mecanismos de agendamentos para determinados atendimentos que você pode usar para otimizar (a marcação, porque) muitas vezes demora o agendamento da consulta médica. Essa é uma iniciativa que roda há algum tempo em parceria com a Prefeitura de Recife. Tem em procedimentos médicos também uma iniciativa dentro do Ministério da Saúde para uso disso no tratamento de imagens. O próprio Ministério da Saúde tem uma Secretaria de Saúde Digital que, na verdade, está de olho nesse uso da inteligência artificial. Nos processos de compra das aquisições feitas pelo governo federal, usamos com a CGU (Controladoria-Geral da União) um software que se chama Alice, que faz uma análise de todos esses processos de compra para saber se estão em conformidade com a legislação e com os acórdãos que saíram do TCU (Tribunal de Contas da União) para que aquela licitação ocorra sem problemas.
E é possível falar em economia?
Eu diria que com o uso do Alice no processo de compra já economizamos mais de R$ 100 milhões que poderíamos (perder) por erros ou por processos equivocados de compra, só neste ano. Mas ainda é muito tímido perto do potencial que temos.
Alguns servidores têm medo de que a IA venha para substituí-los. Isso realmente pode acontecer?
Esse não é o dilema do serviço público, eu acho que a gente está vivendo isso no mundo em geral. É óbvio que a inteligência artificial vai trazer impactos, e eu acho que em todas as profissões. Se você olhar para o médico, o uso da tecnologia vai mudar a forma como ele trabalha, a forma com que ele opera. O servidor público precisa entender que isso entrou na rotina de trabalho e que ele vai precisar fazer uso para potencializá-lo ou para sua própria adequação dentro dessa nova realidade. Como em qualquer outra profissão, ela vai fazer parte da vida. Isso para mim é inegável. Eu acho que a IA vai ajudar muito a complementar e aumentar a produtividade dessas pessoas. Mas é importante registrar que elas precisam se adaptar a trabalhar com o uso de inteligência artificial como um acelerador de suas tarefas, como um impulsionador das políticas públicas pelas quais essas pessoas são responsáveis.
Fonte: Extra (RJ)