FOLHA DE S. PAULO: MAIORIA DO STF VOTA A FAVOR DE RESERVA INDÃGENA EM RORAIMA
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11 de dezembro, 2008
A maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votou ontem pela manutenção da demarcação contÃnua da reserva indÃgena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, e pela retirada dos produtores de arroz que ocupam a área.
Mas em 7 dos 8 votos que seguiram essa linha foram incluÃdas 18 condições sobre as quais a própria Funai (Fundação Nacional do Ãndio) afirmou ainda não ter idéia do impacto que isso pode representar nas áreas indÃgenas do paÃs. O órgão disse que buscará um entendimento jurÃdico, pois as regras que foram sugeridas ontem deverão servir como parâmetro para as demarcações em curso no paÃs.
A desocupação da reserva somente deverá ser oficializada no inÃcio de 2009, por conta de um pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello. Ele disse estar preocupado com a informação que leu em reportagem da Folha de ontem de que o resultado do julgamento poderia ameaçar 227 áreas indÃgenas que ainda estão sob análise.
Oito dos 11 ministros votaram ontem, sendo que 6 deles o fizeram mesmo após o pedido de vista de Marco Aurélio. Todos os que votaram decidiram seguir o relator, ministro Carlos Ayres Britto, mas indicaram algumas “condições”, sugeridas por Carlos Alberto Direito. Ele foi o primeiro a pedir vista, em agosto deste ano.
Entre as ressalvas está a limitação da entrada de Ãndios em reserva ambiental no interior da terra indÃgena, que deverá se adequar a regras estabelecidas pelo Instituto Chico Mendes, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
Os ministros também afirmaram que o usufruto da terra pelos Ãndios não abrange os seguintes pontos: a exploração de recursos hÃdricos e potenciais energéticos -“que dependerá sempre da autorização do Congresso”- e a garimpagem.
Adversário da demarcação contÃnua, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), disse que as condições propostas pelos ministros são um avanço, pois abrem a possibilidade de o Estado investir em projetos na área com autorização do Congresso.
O uso da terra pelos Ãndios também fica condicionado ao “interesse da PolÃtica de Defesa Nacional”. “A instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a expansão estratégica da malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho estratégico e o resguardo das riquezas de cunho estratégico a critério dos órgãos competentes (Ministério da Defesa, Conselho de Defesa Nacional) serão implementados independentemente de consulta a comunidades indÃgenas envolvidas e à Funai”, afirmou Direito.
Ele também deixou claro que a atuação das Forças Armadas e da PolÃcia Federal na área fica garantida independentemente de consulta aos Ãndios.
O voto de Direito foi acompanhado por Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Cezar Peluso e Ellen Gracie. O próprio Ayres Britto mudou o seu voto e acompanhou as ressalvas explicitadas por Direito. O ministro Joaquim Barbosa, por sua vez, seguiu o voto inicial do relator.
Durante o julgamento, quando grande parte dos ministros já havia se manifestado a favor da manutenção da área contÃnua, Ayres Britto propôs cassar uma liminar concedida em abril pelo próprio STF, que suspendeu a operação da PolÃcia Federal de retirada dos arrozeiros da reserva indÃgena.
Seis ministros acataram a idéia do relator, mas Marco Aurélio novamente pediu vista e acabou se desentendendo com Britto. O relator afirmou que já havia maioria para cassar a decisão e que o pedido de vista do colega não teria efeito.
Marco Aurélio rebateu: “Eu pergunto se o plenário ainda é um colegiado? Seria o caso de cassar o pedido de vista? Vossa excelência chega a esse ponto, a essa teratologia [estudo de monstruosidades]?”.
Britto respondeu que não seria certo pedir vista em questão liminar, ao afirmar que a antecipação já era “irreversÃvel”. Ele recebeu o apoio do ministro Lewandowski. O presidente Gilmar Mendes, porém, aceitou o pedido de vista de Marco Aurélio Mello e afirmou que a liminar só será derrubada com o pronunciamento final do Supremo. Se a liminar fosse cassada ontem, os arrozeiros deveriam sair agora da região.
Os ministros também afirmaram que a expulsão de não-Ãndios só vale para aqueles que de alguma forma exploram a região ou mantêm conflitos com a população indÃgena. Ou seja, somente os arrozeiros serão retirados da reserva.
Em tese, os ministros poderão voltar atrás, a depender dos argumentos do voto-vista de Marco Aurélio, que abertamente se opõe à forma contÃnua de demarcação e faz crÃticas ao “aculturamento” dos indÃgenas lá presentes.
Tal hipótese, no entanto, tem pouca probabilidade de se concretizar, já que a maioria dos ministros decidiu não esperar pelo voto do colega e adiantou sua posição. Os únicos que não votaram, além de Marco Aurélio, foram Celso de Mello e Gilmar Mendes, os dois que votariam depois do colega.
Apesar de criar ressalvas, os ministros afirmaram que não existiram vÃcios legais no processo demarcatório da reserva e defenderam o “usufruto exclusivo” das terras pelos Ãndios. Também rechaçaram os argumentos de que sua localização -fronteira do Brasil com Venezuela e Guiana- colocaria em risco a soberania nacional.
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