Entidades repudiam abuso da PM no Sete de Setembro
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09 de setembro, 2013
A segurança se preparou para o Sete de Setembro com um forte esquema na área central de Brasília. Pelo menos 4 mil PMs foram colocados nas ruas. Para garantir as comemorações do Dia da Independência, alguns cometeram excessos registrados em vídeo e fotos. Na área central, manifestantes pacíficos e jornalistas foram agredidos. A ação policial repercutiu em sites e jornais de todo o mundo e foi repudiada por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) e que representam a imprensa brasileira.
Jornalistas do Correio e de outros veículos se tornaram alvo da ação truculenta do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) e do Batalhão de Policiamento com Cães (BPCães). Os profissionais da imprensa, que portavam crachás de identificação, foram atingidos por bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, além spray de pimenta e balas de borracha.
O ataque ocorreu na Praça das Fontes, em frente à Torre de TV, por volta das 14h40, quando a manifestação estava controlada, e o grupo de manifestantes disperso. “Sofri um ataque policial quando a situação entre a polícia e os manifestantes já havia sido controlada e num local onde só havia repórteres. Fui fotografar uma colega que tinha levado spray de pimenta no rosto e um outro policial jogou três jatos no meu rosto. Perdi o ar”, ressaltou a repórter fotográfica do Correio Monique Renne.
Perto dali, o fotógrafo do Correio Carlos Vieira foi atingido pelo veículo do BPChoque, que tem aparato especial montado no para-choques dianteiro para repelir aglomerações. “Estava fotografando toda a ação, quando o carro me atingiu na perna”, diz. Vieira também levou jato de spray de pimenta lançado de dentro de uma viatura do BPChoque e, abatido, foi ao chão. Já a fotógrafa Janine Morais foi atingida nos olhos pelo spray perto do Museu da República. O colega Breno Fortes levou um empurrão de um policial, assim como o repórter Arthur Paganini, também atingido por spray de pimenta.
Na correria causada pela ação militar, o fotógrafo Evaristo Sá, da AFP, passou por situação semelhante e precisou ser socorrido em um hospital na Asa Sul. “Não tive chance de defesa.” O fotógrafo Ricardo Marques, do Jornal Metro, desmaiou com o efeito do gás e teve furtada uma de suas máquinas. “Eles foram covardes”, critica.
O repórter da Reuters Canadá Ueslei Marcelino também acabou ferido. Na correria, ele caiu no chão e distendeu um tendão da perna. Foi socorrido pelos próprios militares. O fato causou intensa discussão entre os jornalistas e os militares. O fotógrafo de O Globo André Coelho conta que foi agredido porque fotografava as ações contra Monique Renne, do Correio. “Quando comecei a registrar, os policiais atiçaram os cachorros contra mim dando palavras de ordem para me pegar. Perto do Museu da República, também acabei atingido por uma bala de borracha nas costas”, diz.
O uso de spray de pimenta por policiais do BPChoque da PMDF foi flagrado por um manifestante que tentava chegar ao Congresso Nacional com uma bandeira. No vídeo, registrado próximo à Rodoviária do Plano Piloto pelo grupo BH Protesta, é possível identificar um cinegrafista e um outro homem sendo atingidos pelo jato. A imagem mostra policiais militares impedindo o grupo de seguir com a bandeira a partir de um determinado ponto.
Questionado pelo cinegrafista sobre a ação, o comandante do BPChoque, capitão Bruno Rocha, confirmou que agiu deliberadamente e ironizou a situação. “Sim, (usei o spray) porque eu quis. Pode ir lá (à Corregedoria da PMDF) denunciar.” Indignados, pelo menos 400 jovens marcaram, pelas redes sociais, uma manifestação para quinta-feira. Eles pedirão a demissão do capitão Bruno.
Críticas
O comando da OAB-DF considerou a “ação policial desastrada” e disse que os ataques sofridos pela imprensa devem ser apurados. A entidade entende que os profissionais foram proibidos de exercer suas atividades e isso deve fazer com que a Ordem e o Ministério Público exijam explicações da polícia. Destacou, ainda, que as forças de segurança se preocuparam mais em afastar as manifestações, fossem elas violentas ou não.
Por meio de nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) manifestou repúdio à violência cometida contra profissionais de imprensa. “As agressões partiram tanto de policiais como de manifestantes, com a intenção de impedir o registro dos fatos pelos profissionais de imprensa. É inaceitável que se imponham limites, de qualquer ordem, à atividade jornalística”, afirma trecho da nota. Em sua página na rede social, a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) também critica as ações da PM contra a imprensa.
O Sindicato de Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF) afirmou, por meio de nota, que “repudia o uso de armas que ponham em risco a vida e a integridade física dos cidadãos”. “Antes do desfile, encaminhamos uma carta à Secretaria de Segurança alertando ao fato de que os jornalistas poderiam virar alvo das confusões e o que ocorreu prova que o governo ignorou nossos apelos”, garantiu o vice-presidente da entidade, Wanderlei Pozzembom.
Segurança
Sobre o vídeo postado em redes sociais por manifestantes mineiros, o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, afirma que, naquele momento, já teria “um clima de incitação” por parte das pessoas que foram protestar na Esplanada. Ele criticou a edição das imagens e ressaltou que o capitão Bruno, do BPChoque, é considerado um profissional “muito tranquilo”. Sobre os ataques aos repórteres, ressaltou que “não há recomendação para tirar jornalistas da cobertura”.
O comandante-geral da PMDF, coronel Jooziel Freire, “a atuação da polícia foi perfeita”. Ele destaca que todo o desfile transcorreu sem incidentes e que os protestos pacíficos contaram com o suporte de militares. “Alguns tentaram levar a cidade ao caos, e aí você sabe que a PM não permite essa situação”, destacou. “É difícil para os militares distinguirem repórteres na multidão de mascarados. Repórteres sem identificação, usando máscaras e capacetes, podem estar sujeitos à abordagem policial”, acrescentou. No entanto, todos os profissionais do Correio agredidos pela polícia estavam com crachá e não ofereciam resistência ou ameaça à operação. “Não queremos deixar impunes eventuais erros, mas o policial também é sujeito a estresse e, se cometeu algum excesso, será investigado pela Corregedoria.”
Fonte: Correio Braziliense – 09/09/2013