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CORREIO BRAZILIENSE: ANTIBIÓTICO SÓ PODERÁ SER VENDIDO COM RECEITA

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20 de outubro, 2010

 
O surto da bactéria KPC no Distrito Federal levou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a anunciar algumas medidas para controlar a venda indiscriminada de antibióticos no país. Nos próximos dias, entrará em vigor uma regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para evitar a venda sem receita desse tipo medicamento. Uma das metas é punir com mais rigor as farmácias que descumprirem a determinação. O balanço mais recente, divulgado sexta-feira pela Secretaria de Saúde do DF, mostra que 15 pessoas morreram com a superbactéria desde janeiro. Ao todo, 135 foram infectadas em hospitais da capital, um aumento de 21% em comparação com a semana anterior.
 
Na opinião do ministro Temporão, o crescimento no número de pacientes internados com a Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) pode estar diretamente relacionado à ingestão de remédios sem prescrição, o que tornaria o micro-organismo mais resistente. “Infelizmente, no Brasil, ainda temos uso indiscriminado de antibióticos. A Anvisa está concluindo uma nova regulamentação com a indicação de acesso a antibióticos nas farmácias”, disse.
 
Temporão também afirmou que o DF é a única unidade da Federação com casos de KPC registrados no país. No entanto, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar Universitário (HU) de Londrina (PR) propôs à direção da unidade de saúde fechar o Pronto-Socorro e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Sabemos que é uma decisão complicada de ser tomada porque não há garantia de que vamos conseguir acabar com ela (a KPC). Mas ao manter a unidade funcionando, estaremos expondo aqueles que não têm a bactéria. Hoje, a internação em UTI representa risco”, explica a coordenadora da comissão do HU, Cláudia Carrilho. Em todo o Paraná, 29 pacientes contraíram a superbactéria este ano, sendo que destes, oito estão infectados e os demais, 21, têm o micro-organismo, mas não manifestaram os sintomas da doença.
 
O ministro da Saúde também não descartou que falhas na rotina dos hospitais podem ter contribuído para a disseminação da KPC. “Temos que avaliar também aspectos internos da dinâmica dos hospitais que podem ter levado a falhas do processo de controle de infecção hospitalar”, frisou José Gomes Temporão.
 
Uso indiscriminado
Para a médica infectologista Maria de Lourdes Ferreira Lopes, a regulamentação da Anvisa ajudará no controle de infecções nos ambientes doméstico e hospitalar. “O uso indiscriminado de antibióticos na comunidade e dentro dos hospitais é uma das maiores causas de resistência bacteriana no Brasil. Hoje, a pessoa que tem febre toma antibiótico, se tem um vírus que fica no organismo menos de 48h toma antibiótico, além de usar as sobras de antibióticos guardadas em casa para tratar outras doenças. Tudo isso ajuda as bactérias a ficarem resistentes”, afirmou.
 
A médica explicou como ocorre o processo de fortalecimento dos micro-organismos. “Quando se faz a ingestão de antibióticos indevidamente, as bactérias sensíveis da flora são destruídas e as bactérias mutantes ficam livres para se multiplicarem. Ocorre que quando se toma o antibiótico de novo, não faz efeito nenhum.”
 
O secretário adjunto de saúde do DF, Eduardo Guerra, também considerou positiva a proposta do ministro. Para ele, a venda e a ingestão de remédios sem a indicação de um profissional da área da saúde trazem consequências graves à sociedade. “É uma medida adequada e oportuna. Não é só aqui no DF. Em vários pontos do país essa prática traz problemas de grandes proporções, porque induz a resistência dos micro-organismos”, opinou Guerra.
 
Quando questionado sobre as declarações do ministro, que considerou ser possível ter havido falhas nos hospitais, Guerra preferiu não polemizar. “Não ouvi essa declaração do ministro, então prefiro não falar sobre isso”, encerrou.
 
Fiscalização
No fim desta semana, os técnicos da Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos Adversos em Serviço de Saúde (Gepeas), órgão subordinado à Secretaria de Saúde, concluem as visitas aos hospitais públicos e privados do DF. O grupo está avaliando o que as unidades estão fazendo para conter o surto da KPC.
 
Quando o diagnóstico em algum hospital é negativo, os servidores da Gepeas orientam os gestores sobre o que fazer para não deixarem os pacientes internados vulneráveis à superbactéria. “É um trabalho que envolve toda a comunidade hospitalar, desde o médico que dá o diagnóstico ao servidor da limpeza. Conseguimos realizar cursos e até articular para fosse feita uma divisão de leitos entre acometidos e não acometidos pela bactéria. É um trabalho de supervisão e ficaremos à disposição dos gestores para esclarecer lacunas e também corrigir algo que esteja errado”, eplixou o médico infectologista José David Urbaez , integrante da Gepeas.
 
Faltam remédios
 
A maior dificuldade em tratar pacientes com KPC é a falta de antibióticos disponíveis no mercado. Como a bactéria é bastante resistente, os médicos têm de combinar até três tipos de medicamentos mais fortes e mais caros. A transmissão ocorre principalmente por conta da falta de higienização das mãos e pode ocorrer quando um paciente em estado grave é transferido de um leito a outro, ou até mesmo por enfermeiros e médicos.
 
Balanço
 
O primeiro caso de KPC no Hospital Universitário de Londrina ocorreu em fevereiro do ano passado. De lá para cá, pelo menos 300 pacientes contraíram a superbactéria. De fevereiro até dezembro de 2009, a mortalidade de pacientes girou em torno de 85%. Coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HU, Cláudia Carrilho, afirma ser impossível afirmar quantos doentes perderam a vida por conta da KPC porque, a maioria dos contaminados estava com a saúde bastante debilitada.
 
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE – 20/10/2010