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Mudança é a palavra-chave, Luciana Genro

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14 de janeiro, 2003

Mudança é a palavra-chave LUCIANA GENRO Na esteira de mais de vinte anos de lutas, Lula vence as eleições e já governa o Brasil. Em horário nobre da TV, assistimos à história do líder operário, às greves que dirigiu, à sua prisão pela ditadura militar. Sem dúvida, uma mudança política e cultural sem precedentes na história brasileira. Essa vitória coloca os protagonistas dessa história em melhores condições para conquistar suas reivindicações de décadas.A montagem do governo, porém, expôs contradições que somente poderão ser superadas pela mobilização popular em defesa das demandas mais sentidas e urgentes. Esse é o caminho para realizar as mudanças esperadas pelos milhões que elegeram Lula presidente.A política econômica de FHC, voltada para atender os interesses do capital financeiro, estrangulou setores da burguesia, levando-os a aderir à saída Lula ou a aceitá-la, de forma mais ou menos conformada. Isso foi possível pelas mudanças no programa da Frente Popular, que vêm se dando desde a derrota de 89. Bandeiras históricas, como a suspensão do pagamento da dívida externa, o apoio às ocupações de terra e uma política ofensiva contra o domínio dos bancos e das grandes empresas, foram deixadas de lado. Esse processo deu um salto de qualidade na “Carta ao Povo Brasileiro”, na verdade, uma carta de compromisso com o capital financeiro. A aliança com o PL havia sido a primeira senha dessas mudanças e alavancou a confiança dos setores burgueses, que constituíram o amplo leque de alianças.Essa política foi útil para vencer as eleições, derrubando medos e mitos que gravitavam em torno do PT. Mas ninguém duvida que o medo só foi vencido pela esperança de mudanças reais. Não foi à toa que Lula iniciou seu discurso de posse com o título deste artigo. Agora, diante de um país com uma distribuição de renda que só não é pior que a de Serra Leoa e que tem 89,9% do Orçamento de 2003 comprometido com os juros da dívida, alguém tem de pagar a conta. Nos 500 anos do Brasil, ela sempre foi paga pelos de baixo. Agora chegou -ou deveria ter chegado- a vez dos de cima. Mas um governo que tem na chefia do Banco Central o ex-presidente mundial do BankBoston (contra o qual se insurgiu a combativa senadora Heloísa Helena), no Ministério da Agricultura um grande empresário do “agribusiness”, no Ministério do Desenvolvimento um empresário eleitor de Serra e, para fechar, como substituto constitucional do presidente um magnata do ramo têxtil -do PL-, certamente terá muitas dificuldades para fazer os de cima, bem representados no governo, darem finalmente a sua cota de sacrifício.Os setores burgueses que aderiram a Lula querem o Estado ajudando a organizar o investimento capitalista, não como proprietário ou controlador -mas como indutor de tecnologia e crédito-, dando-lhes melhores condições de competir no mercado mundial. Por isso não têm nenhum interesse em acabar com o histórico arrocho salarial da classe trabalhadora, usado como fator de competitividade. Também não querem rupturas, mas a manutenção das políticas econômicas do governo FHC, especialmente os compromissos com o FMI.Esse é o caminho que o governo tem dito ser inevitável no período de transição. Mas, como o gato é escaldado, vale perguntar: Esta transição vai durar todo o governo? Ou nas palavras do sociólogo Francisco de Oliveira: “Na agenda da “transição” em direção a um pós-neoliberalismo, o programa para o trabalho somente comparece no registro do neodesenvolvimentismo. E o programa para a seguridade social permanece em brumas, mas sendo sugerida uma versão suave do sistema de capitalização e a derrogação dos “privilégios” do funcionalismo público. Comprou-se o discurso neoliberal ou ele já estava introjetado?” (Folha, A11, 29/12/2002).Tudo isso em nome de uma supostamente necessária credibilidade com os “mercados”, sanguessugas que, há anos, repartem o butim enquanto o país vai à deriva. Que mudanças reais podem ser operadas enquanto não rompermos esse circulo vicioso? Melhorias pontuais podem ocorrer, mas a crise só será superada enfrentando interesses poderosos, o que é inviável por meio de um pacto social.A Venezuela nos mostra que as classes dominantes da América Latina não aceitam nem a independência dos países da região. Preferem ser sócias menores do imperialismo. Alguns citam a suposta “radicalização” de Chávez como exemplo que leva ao caos. É bom lembrar também de De La Rua, a oposição que quis virar governo sem mudar nada e foi punida pelo povo argentino.Chávez é ameaçado de golpe pelo que fez de correto -defender o petróleo-, mas tem o apoio dos pobres dos morros de Caracas, que desceram para defendê-lo em abril e estão dispostos a voltar à cena caso o presidente os convoque.Mas nenhuma dessas experiências deve ser imitada. O Brasil tem seus próprios caminhos, mas pode extrair delas conclusões estratégicas: romper com o capital financeiro é uma necessidade e, para isso, devemos nos preparar. Não devemos pensar que o FMI, o Banco Mundial ou a Casa Branca possam ser nossos aliados, pois isso só pavimentará um caminho de frustrações e derrotas.O Brasil pode liderar a América Latina na resistência à barbárie do capitalismo globalizado, construindo alianças com os governos e os povos dispostos a romper com o FMI e a defender a soberania do nosso continente. Devemos propor medidas que protejam o país dos especuladores, como a centralização do câmbio e o controle dos capitais, buscando o apoio da base social histórica de sustentação do PT, não fazer alianças que levam ao abandono dos compromissos que sempre nos guiaram.Luciana Genro, 32, é deputada federal eleita (PT-RS).

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